terça-feira, 17 de julho de 2007

Tem gente que simplesmente cai



A sede de respostas instantâneas, acompanhada da incapacidade de lidar com a realidade. A pressão de pessoas que se julgaram capazes de subverter uma moral já construída. A leitura, como antecessor desesperado, do símbolo primeiro da legislação moral: a Bíblia. A incongruência certeira para o alívio imediato. Sete vidas. Sete vidas? Imagina...

Quantas chances gastas? Dúvida. Na dúvida, o risco. Pulo. Aos poucos tudo se esclarece. Conhecemos as pessoas de trás pra frente. Ou vice-versa, de acordo com o ponto de vista. Buscamos entender e conhecer e saber, saber, saber... A nós sim. A nós mesmos, conhecemos linearmente; no sentido horário, digamos. Caí. E tudo começou. E começo a me reconhecer como às pessoas (outras); no inverso. Me dividi no espaço e no tempo. Relembro os fatos através de memórias de outrem.

-O que aconteceu?

Olhei pra cima entorpecida e, como quem vê e desacredita, reconheci a janela, agora de baixo, e logo entendi que a legislação moral consultada teria sido interpretada conforme meus acumulados conceitos superficiais ou antropocentristas e que Newton estaria certo nas suas descobertas universais. Gritei de dor.

O primeiro estímulo. Inconscientemente, me reservei um papel insignificante. Começaram a me atormentar as ambigüidades, as dualidades. Ressonâncias em meio a um recente estudo sonoplástico. Memórias esquecidas trazidas forçosamente à tona. Família. Passeios em corredores hospitalares. Medo. Visões.

Na volta pra casa, realidade construída, mentalidade forjada. Suor, sujeira, dor. Medicação. Medicação controlada, conteúdo programado, referências transformadas. A vitamina C que despedaça o céu. Da boca. O gosto ruim do artificial. Os protocolos ditando a procedência necessária. Os excessos camuflados, a instituição dissimulada. O modelo psicopatriarcanal (e/ou psico-patriarca-anal). Filmes postulados, discos arranjados, políticos marimbondos, corpo morimbundo. Impregnação de medicamentos (e símbolos). Ambulância, hospital, despedida.

Televisão. Quadros. Abstração significativa. Interpretação de toda e qualquer informação. Necessidade de captar todos os eventos, circunstâncias. Tomar conta do mundo. Relembrar como se constrói argumentação. Mais; como aplicá-la com domínio.

E qual domínio se tem para argumentar quando sua última ação resume-se a um pulo da janela do terceiro andar? A possibilidade de morrer existia desde o início, mas o medo de ser incapaz superou a coragem de voar rumo ao piso da garagem.

Certeza do dilúvio universal, impotência humana frente às forças naturais. Guerras maniqueístas. Fundamentalistas radicais, sensores, contraventores, oportunistas. Coincidências sobrenaturais. Novidades seculares, heptagonares. Certeza de um "fim" próximo; humanidade ancestral. Terra; pequeno território interplanetário circular.

Mudança de quarto. Reuniões decisivas, tecnologia avançada, controle da vida. Mudez descontrolada, cegueira internada. Sensações aguçadas, pensamentos fervilhantes, sons retumbantes. Amor.

Amor que se sente no sangue, no músculo, no osso, na veia, no cérebro. Contato, tato que dói, queima, alivia, arde. Verdade que se esconde, esconde e, de repente, jorra.

Deus. Arte. Perdão. Nojo. Intriga. Jejum. Pão. Paz. Força. Comunicação.

Gente sente tudo.

14 comentários:

Nilmar Barcelos disse...

Já diria minha bisavó Gertrudes: gente é um bicho estranho. Ps - li o texto em primeira mão, sou vip =) Ps² - esse é o nosso prefácio, viu?

Unknown disse...

Nem venha contar vantagem Nil, lembre-se de que eu estava junto! Se os textos continuarem com essa qualidade, confesso que me tornarei leitora assídua do blog da prima...ops...da Brisa!(lembra do nosso fotolog?(premas..hehehehe)
bjos prima, te amo!Mari

Mariana Ruggiero disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anônimo disse...

Re-soprando brisa




na dúvida !?
o risco.
pulo da janela do terceiro andar(?)
certeza do dilúvio (q sacia)
a sede de(+a) resposta[s]
Quantas chances ga[s]ta[s]?
Sete:
televisão. quadros. abstração
postulados, discos, marimbondos, corpo
Sete vidas? (:)
deus. arte. perdão. nojo. intriga. jejum. pão.

da boca. (a)O gosto ruim
q Rememora o salto das asas.
asas?
tem gente que simplesmente cai
feito brisa q sopra
qdo finda a tarde.

Anônimo disse...

Escreva mais Brisa!
Eh tão bom!

Beijos.
Mariana.

Anônimo disse...

Nossa menina....

Que força tem as suas palavras....

Não te conheço...mas sei da estória e me comovi com seu texto....

Anônimo disse...

Desejo plena recuperação......do fundo do meu coração.

Anônimo disse...

"Nenhum homem é uma ilha isolada; cada homem é uma partícula do
continente, uma parte da Terra; se um torrão é arrastado para o mar, a
Europa fica diminuída, como se fosse um promontório, como se fosse o
solar de seus amigos ou o teu próprio; a morte de qualquer homem me
diminui, porque sou parte do gênero humano. E por isso não perguntes
por quem os sinos dobram; eles dobram por ti".

Anônimo disse...

Escrevendo de novo o que apagou: tarefa difícil traduzir em palavras o que acontece aqui dentro - da gente. Seu texto é quase como teatro: nos passa a sensação do que é contato. Porém, nele há uma diferença preciosa, trata-se da vida real. E como é bom compartilhar a sua vida.

!

R disse...

mto bom!

fortaleza furta-cor disse...

nossa. nossa. transbordei de emoção.

brisa leve brisa forte brisa agora voa e chega até as estrelas!

saudade de você, estrela. você brilha. brilha de tão forte. brilha de tão leve. brilha de tão brisa. beijocas!

alexandre de sena disse...

é como um encontro.
meu tombo foi assim. meus tombos...
nossa! e como é grande a força posterior para um novo encontro!
e como fiquei feliz em reencotrá-la! fui sendo alimentado pelas amigas por pitadas de notícias e segurando a ansiedade de te ver. ver o bolo crescer. segurar os pulos e gritos de te ver num (no) aniversário, depois na (quela) peça e, quando será o próximo?
quando puder ir na minha casa farei um bolo. De cenoura. Não sei se você gosta, mas minha mãe dizia que é bom pra crescer, correr e pensar como um coelho.
saudade, viu!?
beijos

Anônimo disse...

faltam-me as palavras. Só posso dizer: Brisa, a ventania!

Te adoro, menina! Parabéns, ótimo texto, ótima recuperação, ótimo semblante!!

Ótima Brisa!

Anônimo disse...

simplesmente fantastico como vc expressa as idéias...
e o "gente sente tudo no final", lindo...

é incrível quando lemos e fazemos da leitura parte de nós, e até agora o que eu li seu,foi como se eu estivesse lendo a mim...(mais ou menos isso!)rs

bom, se me permite, um dia qria t mostrar algumas coisas q escrevo...
abraços.
Larissa Mattos.