quarta-feira, 26 de setembro de 2007

Chôro


Enumerei minhas sinestesias,
azias, os pontos dos contos que aumentei.
Criei cantiga, artigos invertidos,
vim tomar partido e nosso crime inventei.
Me travesti nos meus poemas tortos,
meus suspiros roucos, letras garrafais.
Me toque atônito, não toque a tônica.
- Mais!
Esconda aquele choro que é pra ninguém ver.
Fácil me faço em versos depravados
e os decorados guardo pra você.

quinta-feira, 20 de setembro de 2007

Uma só


Se ele soubesse que o gosto da laranja é ácido,
Beijar-me-ia até sugar meu gozo.
Ousar-me-ia até olhar meu rosto.
Sentir-me-ia até não poder mais.

Mas ai de quem, por trás de outra, esconde
Vivaz sorriso insípido, ousado, inquietante,
Medroso, de teor inócuo, juras de amor me faz.

Prometo, então, dar-te o que queres,
Sem me mostrar inteira, sem me escravizar,
Sem dar-te os meus cheiros, meus recheios.
Não te deixo salivar.

Só dou-te o doce da laranja.
A casca, grossa, amarga.
Não chupas meu bagaço.
Traço-te em pedaços.

Num gesto coincidente,
Ousa agora me atrapalhar?
Digo-te c’oas palavras que planejo de improviso.
Termino meus versos por não deixar-me acabar.

terça-feira, 11 de setembro de 2007

Tintureiros


Três pintores jogam cores
Entre cantos e cantigas
Criam contos entre mofos
Vestem manchas em camisas
Sonham verde em laranjas
Varrem o pó do azul anil
Palavream rosas antigos
Descarrilha o parafuso

quinta-feira, 6 de setembro de 2007

Goteja


E em minhas águas me canso,
rio manso que não quer jorrar.
Mas vai,vai cascata, vai borrão.
Vai modernizar.
Quero o novo, sem ferida.
O "céu" sem medida.
O café controlado
e o leite adoçado.