quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Alivia


És aurora, amiga minha
que entre as cores me desperta.
Mata as dores sob os olhos,
é mulher de rara espera.

Se entre passos, apareces
como quem, sem medo, pula.
Em segredo te confesso;
minhas marcas, também tuas.

Só em drama, não queria
escrever-te em poucas linhas.
Mas teus dedos delicados,
encravados nos meus versos,
são pedaços descalçados
dos gotejos de protesto.

São meus fios desfiados
em papéis de prostitutas.
O torpor desmoronado
da farinha branca e pura.

Como a pele que é, em Lívia,
água, azeite, frase, lira.
És perfume adocicado.
Eau de vie, salue Marie!

És aurora, amiga minha.

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Pele


Cascas mortas
saem em pé.
Dor aguda.
Amarras.
Formigas e sorriso.
Brio.

quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Eles


Nada ele tinha dela.
Nada ele era dela.
Nada.
Ele e ela.
Ela danada era.
Tinha ele apenas ela.
E ela, ele.

sábado, 24 de maio de 2008

Depois de tanto...


Pra você, as moças com olheiras cinzas.
As magras, com ancas largas.
As gordas descabeladas.
Pra você, o cheiro de outras coxas.
O beijo desrespirado.
A calma e sensatez das almas amaduradas.
Os filhos nascidos vivos, os mortos e os apartados.
Pra você, não mais intromissão.
Não mais insensatez.
Menos dor.

quarta-feira, 2 de abril de 2008

Nota


É no meio da teoria que encontro
a poesia guardada em notas de Chiquinha.
Que me vale enquanto anoto, engulo
o rôto, sem gosto; o mercado cultural.
Em arte, n´algum instante, me disfarço.

Lastro


A cárie, o cio, o corte, o vício.
A dor, o amor, a sincronia.
O sol esfria o exterior,
o núcleo jorra a gota fria.
A ferpa encontra, a veia inflama.
O rastro rasga a pele, arde.
E sente o nú, a taturana.

sexta-feira, 14 de março de 2008

Clap


O som da voz, de tão baixo, parecia nem soar.
O gosto do sopro aguçou meu olfato e me fez tocar.
Sonata macia, tântrica, a sós.
A flor pequena, única, beirou a estrada de cor.
Uma audição ritualística e seus nós. E nós?
Um ritmo constante. Em cinco movimentos.
Sinfonia improvisada, errante.