segunda-feira, 30 de julho de 2007

Ayer


Unilateralmente, Bach.
Villa Lobos santanense, um ouvido inaudível,
o acústico tilintar aquático,
elétrico, lacínio, toca.
Meu...Tímpano...
Cai a chuva e ouço as notas que retratam-me a pele,
os traços,
toca-me a alma, os laços.
Toca-me, me toca freneticamente,
com os dedos, em ré sustenido,
meu suspiro agudo. Gemido.
Respiro a dor ausente,
presente noturno.
O baixo abaixado,
ritmo cortante, stacatto.
Luiza, que agita meu cobertor.
Tremo até minh'alma se sentir beijada.
Ai...
O cheiro da fumaça que não sinto.
O gosto da bebida
Bebo apaixonada até o último gole.
Quero fechar os olhos e os fecho abertos.
Sete cores, et cores, et cor'es...
É sempre bom lembrar,
o seresteiro nato
tem um negro rosto sombrio,
um vazio sábio.
Um cheiro de ar.

domingo, 29 de julho de 2007

Duas cantigueiras


O gordo ou o magro?
Conversa de mariquinhas
Interior recalchutado
Pode assim?
Como é?
É a junta, o instrumento
Machucado, realento
Misericórdia, atormento
Chuva fraca.

terça-feira, 17 de julho de 2007

Tem gente que simplesmente cai



A sede de respostas instantâneas, acompanhada da incapacidade de lidar com a realidade. A pressão de pessoas que se julgaram capazes de subverter uma moral já construída. A leitura, como antecessor desesperado, do símbolo primeiro da legislação moral: a Bíblia. A incongruência certeira para o alívio imediato. Sete vidas. Sete vidas? Imagina...

Quantas chances gastas? Dúvida. Na dúvida, o risco. Pulo. Aos poucos tudo se esclarece. Conhecemos as pessoas de trás pra frente. Ou vice-versa, de acordo com o ponto de vista. Buscamos entender e conhecer e saber, saber, saber... A nós sim. A nós mesmos, conhecemos linearmente; no sentido horário, digamos. Caí. E tudo começou. E começo a me reconhecer como às pessoas (outras); no inverso. Me dividi no espaço e no tempo. Relembro os fatos através de memórias de outrem.

-O que aconteceu?

Olhei pra cima entorpecida e, como quem vê e desacredita, reconheci a janela, agora de baixo, e logo entendi que a legislação moral consultada teria sido interpretada conforme meus acumulados conceitos superficiais ou antropocentristas e que Newton estaria certo nas suas descobertas universais. Gritei de dor.

O primeiro estímulo. Inconscientemente, me reservei um papel insignificante. Começaram a me atormentar as ambigüidades, as dualidades. Ressonâncias em meio a um recente estudo sonoplástico. Memórias esquecidas trazidas forçosamente à tona. Família. Passeios em corredores hospitalares. Medo. Visões.

Na volta pra casa, realidade construída, mentalidade forjada. Suor, sujeira, dor. Medicação. Medicação controlada, conteúdo programado, referências transformadas. A vitamina C que despedaça o céu. Da boca. O gosto ruim do artificial. Os protocolos ditando a procedência necessária. Os excessos camuflados, a instituição dissimulada. O modelo psicopatriarcanal (e/ou psico-patriarca-anal). Filmes postulados, discos arranjados, políticos marimbondos, corpo morimbundo. Impregnação de medicamentos (e símbolos). Ambulância, hospital, despedida.

Televisão. Quadros. Abstração significativa. Interpretação de toda e qualquer informação. Necessidade de captar todos os eventos, circunstâncias. Tomar conta do mundo. Relembrar como se constrói argumentação. Mais; como aplicá-la com domínio.

E qual domínio se tem para argumentar quando sua última ação resume-se a um pulo da janela do terceiro andar? A possibilidade de morrer existia desde o início, mas o medo de ser incapaz superou a coragem de voar rumo ao piso da garagem.

Certeza do dilúvio universal, impotência humana frente às forças naturais. Guerras maniqueístas. Fundamentalistas radicais, sensores, contraventores, oportunistas. Coincidências sobrenaturais. Novidades seculares, heptagonares. Certeza de um "fim" próximo; humanidade ancestral. Terra; pequeno território interplanetário circular.

Mudança de quarto. Reuniões decisivas, tecnologia avançada, controle da vida. Mudez descontrolada, cegueira internada. Sensações aguçadas, pensamentos fervilhantes, sons retumbantes. Amor.

Amor que se sente no sangue, no músculo, no osso, na veia, no cérebro. Contato, tato que dói, queima, alivia, arde. Verdade que se esconde, esconde e, de repente, jorra.

Deus. Arte. Perdão. Nojo. Intriga. Jejum. Pão. Paz. Força. Comunicação.

Gente sente tudo.